Lima, 20 de julho de 2023. Hoje, Dina Boluarte, Presidente da República, assinou o autógrafo da lei que cria a nova Autoridade Nacional de Infra-estruturas. Esta nova instituição terá, entre outros, o desafio de colmatar as lacunas de infra-estruturas no nosso país. No entanto, e em conformidade com o
previamente avisado por Derecho, Ambiente y Recursos Naturales (DAR)
Para garantir uma infraestrutura sustentável, que respeite as normas ambientais e os direitos da população, esta entidade deve estar claramente expressa nos regulamentos que a regem.
A este respeito, no âmbito do evento “Uma infraestrutura para a vida: Rotas preliminares para uma ligação sustentável na Amazónia”, realizado a 13 de julho, foram apresentadas 7 orientações que devem ser tidas em conta para uma infraestrutura sustentável, uma infraestrutura para a vida.
O evento foi implementado por Derecho, Ambiente y Recursos Naturales, a Coordenadora Regional dos Povos Indígenas de San Lorenzo (CORPI-SL), Organización Regional de Pueblos Indígenas del Oriente (ORPIO), Organización Regional Aidesep Ucayali (ORAU) e One Planet, para reforçar a governação ambiental na Amazónia. Com base nos casos de projectos rodoviários em Loreto, Ucayali e no sul do país, foram levantados os aspectos técnicos e sociais necessários para reforçar o quadro institucional e a gestão no sentido de uma infraestrutura sustentável.
Recomendações dos sectores, bancos, sociedade civil e peritos para a construção de estradas
Vanessa Cueto, da DAR, destacou uma série de condições mínimas para a sustentabilidade dos projectos rodoviários, desde a sua fase inicial: (i) abordagem das necessidades locais, ii) a identificação e avaliação dos riscos ambientais, climáticos, económicos, sociais e culturais nos estudos de pré-investimento e na certificação ambiental, (iii) consulta livre, prévia e informada das comunidades na área de influência da estrada, (iv) mecanismos de acompanhamento e controlo atempados, (v) participação efectiva na conceção e execução dos projectos rodoviários, (vi) uma governação transparente, participativa, inclusiva e eficaz, e (vii) a articulação dos quadros jurídico, climático e de infra-estruturas. Estas directrizes visam reduzir os riscos associados às infra-estruturas, especialmente estradas, na Amazónia.
Da mesma forma, o Ministério do Ambiente (MINAM) partilhou um modelo de análise hierárquica espacial para a categorização e priorização de estradas com uma abordagem ambiental que lhes permitiu excluir 359 km de estradas em áreas naturais protegidas, e 362.47 km de estradas fora das ANP e comunidades autóctones. Sublinhou que, embora este modelo estivesse centrado no litoral e nas terras altas, poderia ser adaptado à Amazónia, juntamente com outros elementos de acordo com o território.
Em relação ao cumprimento do quadro jurídico climático, Tania García, da Provedoria de Justiça, mencionou a importância de incluir a variável climática na conceção de todos os projectos de investimento, a fim de aumentar a resiliência às alterações climáticas, o que é uma tarefa pendente do MINAM e do Ministério da Economia e Finanças.
Por sua vez, Rafael Capristan, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), enfatizou que a avaliação dos impactos de projetos na Amazônia requer a inclusão de outros tipos de análise, impactos indiretos, cumulativos e outros, considerando a abordagem intercultural. É importante “assegurar a quantificação e a orçamentação das medidas de atenuação e a identificação dos impactos indirectos e cumulativos”.
César Ipenza, jurista especialista em questões ambientais, referiu que “todas as infra-estruturas necessitam de mecanismos de proteção, uma vez que os níveis de desflorestação estão a aumentar e os impactos têm de ser mitigados”. Ele também mencionou que “a infraestrutura é necessária, mas sob mecanismos eficazes de planejamento e uso do solo”.
Recomendações do meio académico e das populações indígenas para a construção de estradas
Durante o evento, foi apresentado o livro “La ruta a la tierra de Madre de Dios: Una historia de la carretera Interoceánica en Perú”, da autoria dos académicos Stephen Perz e Jorge Luis Castillo, que salienta que os custos económicos e sociais finais da infraestrutura são muito superiores aos inicialmente previstos, pelo que é fundamental melhorar o planeamento da governação dos impactos da obra, bem como a inclusão social nos processos participativos.
As organizações indígenas CORPI-SL, ORPIO e ORAU abordaram os impactos nos territórios indígenas gerados pelos projectos rodoviários prioritários nos seus territórios e apelaram aos sectores dos transportes e do ambiente para que garantam que os projectos rodoviários sejam objeto de uma avaliação de impacto ambiental fiável e assegurem uma intervenção abrangente que beneficie de forma tangível as comunidades nativas.
Em relação à proposta de construção da estrada Bellavista-Mazán-Salvador-El Estrecho (Loreto), o vice-presidente da ORPIO, José Murayari, afirmou: “Gostaríamos que o Estado garantisse a segurança territorial, uma vez que a estrada nos trará riscos de vida, desflorestação, exploração infantil e tráfico de seres humanos”, e sublinhou “queremos que o governo estabeleça um pacote de investimentos que beneficie as populações indígenas”.
Para Ucayali, foi apresentado o caso da estrada. Bolognesi – Túpac Amaru – Nuevo Italia – Ponte ShesheaDe acordo com Judith Nunta, representante do Programa de Mulheres Indígenas da ORAU, esta situação afecta cerca de 25 comunidades indígenas devido ao cultivo de coca, ao tráfico de seres humanos e a doenças relacionadas com a desflorestação causada pela abertura da estrada. A este respeito, salientou que: “n
Não somos contra a estrada, mas queremos que ela também nos beneficie”.
, salientando que a consulta prévia é importante para a proteção dos direitos das populações indígenas.
Finalmente, no caso da estrada Iquitos-Saramiriza (Loreto), George Cuñachi, da CORPI SL, salientou que as ligações propostas não foram feitas com um planeamento territorial abrangente adequado: “O comum é que uma estrada seja aberta sem segurança jurídica, o que causa agricultura migratória e desflorestação devido à exploração madeireira ilegal. O Datem del Marañón alberga o sítio Ramsar Abanico del Pastaza, único no planeta, e o nosso país tem compromissos para mitigar as alterações climáticas (…). A proposta da CORPI SL inclui a titulação das comunidades e a implementação de planos de vida, caso se pretenda implementar uma estrada, para garantir a segurança alimentar e manter os recursos naturais”.
As organizações indígenas sublinharam a necessidade de promover projectos rodoviários com pacotes completos que beneficiem as populações (postos de saúde, escolas, postos de controlo, projectos produtivos sustentáveis, segurança territorial) na área de influência de um projeto rodoviário. É essencial implementar mecanismos de consulta e participação livre, prévia e informada, com uma abordagem intercultural, bem como uma avaliação de impacto socioambiental abrangente, com medidas de prevenção e mitigação dos impactos negativos, incluindo actividades económicas baseadas nos planos de vida das comunidades.